O sonhador, Ian McEwan

 

                        O sonhador, Ian McEwan,

 Gradiva



  Conheci este autor através do murro no estômago que senti ao ler o Jardim de cimento e logo me tornei fã incondicional da sua escrita, assim como das suas histórias recheadas de personagens complexas, imersas em situações insólitas, desconcertantes e imprevisíveis. Daí que não tenha estranhado a utilização dos seus enredos como ponto de partida para variadíssimas adaptações ao cinema.

  O sonhador consta da na nossa Biblioteca e assume-se como uma obra infanto-juvenil, sem que nela se note qualquer infantilismo, o que nos permite considerá-la também dirigida a adultos. Com ilustrações de Anthony Browne, artista várias vezes premiado, o livro dá-nos a conhecer Peter Fortune, um miúdo de 10 anos, que vive com os pais e a sua irmã Kate, apenas diferente dos seus pares no facto de viver sempre algures entre a imaginação e a realidade. 

  O livro conta-nos, assim, as aventuras desse universo permanente fantasioso que o jovem, com imaginação prodigiosa, vai sucessivamente criando. Aventuras que nos são apresentadas em sete contos distintos, mantendo-se, no entanto, a linha de continuidade dos acontecimentos. E são estranhas as aventuras que Peter vive: por exemplo, ao trocar o seu corpo com o do seu gato, com o de um bebé, ao imaginar que é assaltado e quase assassinado pela vizinha, ou transformar-se num adulto, o que o leva a perceber melhor o que essas personagens poderão sentir, algo que lhe seria difícil se se centrasse apenas na sua experiência de rapaz de 10 anos. Chega então a questionar-se se esses sonhos não serão muito mais reais do que a sua vivência na escola e em família. E parece-me que é esta a questão central que O Sonhador”nos coloca ao descrever quão rico é o universo do sonho, algo que vamos perdendo à medida que crescemos e amadurecemos.

Com as suas histórias admiráveis, Peter abre-nos as portas do seu mundo secreto e fascinante e convida-nos a entrar nele: “E foi então que, de repente, Peter descobriu o que queria fazer, o que tinha de fazer. Flutuou em direção ao gato William e ficou a pairar sobre ele. O seu corpo continuava aberto, como uma porta, e parecia tão acolhedor. Desceu e entrou para dentro dele. Era tão bom estar vestido de gato. Não era tão mole quanto Peter julgava que todas as vísceras fossem. Estava seco e quente. À medida que o seu prazer de ser gato aumentava, o coração começou a inchar e ele começou a sentir um formigueiro no fundo da sua garganta. Peter estava a ronronar. Ele era o gato Peter e do outro lado estava o rapaz William.” (cap.2, “O gato”)

  Ian McEwan, é inglês, nasceu a 21 de junho de 1948 e é por muitos considerado um dos principais escritores contemporâneos.

Dina Luz

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